AGENTE DA POLÍCIA NACIONAL ACUSADO DE MATAR DEZ DETIDOS COM CHÁ


AS AUTÓPSIAS REVELAM O CONTRÁRIO

Um efectivo da Polícia Nacional, conhecido por “Chefe Mapanda”, é acusado de matar dez detidos na esquadra da 41ª do bairro Balumuka, município de Cacuaco, em Luanda, com um suposto Chá.

O Director Executivo da OMUNGA deslocou-se até ao distrito do Kikolo, em Cacuaco, no bairro Boa Esperança com dois activistas do mesmo município, onde visitou duas famílias que se encontram em luto em função da ocorrência.

Durante a visita, em uma das famílias de um dos detidos que morreu, em vida conhecido por António Augusto, ou simplesmente “Stoneira”, assim como era chamado pelos moradores daquele bairro. A sua irmã, Antónica Grosso, conta à nossa equipa que, Stoneira recebeu em sua oficina uma mota de duas rodas para arranjar. A mota era do Chefe “Mapanda”, ex-agente da esquadra da 41ª.

Após Stoneira arranjar a mota do Chefe Mapanda, entregou-a ao agente da polícia para efectuar o devido pagamento. Porém, o Chefe Mapanda diz ao Stoneira que não tinha dinheiro para pagar o serviço prestado, mas que o mecânico poderia trabalhar três dias com a mota e os valores que arrecadaria serviria como pagamento pelo trabalho prestado.

Feito o acordo, António Agostinho ficou a trabalhar com a mota durante três dias, assim como conta a irmã do malogrado. No último dia de trabalho para conclusão do dinheiro, Stoneira é assaltado na praça do Kikolo por indivíduos não identificados e roubaram-lhe a mota do Chefe Mapanda.

Stoneira regressa à casa explica a situação a sua mulher e juntos foram até a casa do Chefe Mapanda para contar o sucedido. Chegando em casa do Chefe Mapanda, Stoneira expôs a situação ao agente da polícia, em seguida, o acusado pede ao Stoneira e a sua mulher para regressarem em casa porque ele poderia recorrer ao seu “PAPÁ” que daria resposta se ele estava a mentir ou a dizer a verdade.

Ainda no mesmo dia, o chefe Mapanda foi a procura do seu “PAPÁ”, bem como narra Antónica Grosso, irmã de Stoneira, e por volta das 19horas, o agente acusado orienta uma equipa de supostos efectivos da Polícia em casa de Stoneira para trazerem-no junto com a sua mulher. Chegando em casa, Chefe Mapanda pede à Stoneira para encostar na parede, feito isso, começou a fotografá-lo e solicitou os seus dados pessoais.

Em seguida, o Chefe Mapanda informa ao Stoneira que ele não havia sido o roubador da mota, mas pelo seu descuido deverá pagar a mota, num valor equivalente cento e trinta mil kwanzas. Stoneira aceita pagar a mota, mas por prestações. Horas depois, novamente, o Chefe Mapanda manda alguns jovens buscar Stoneira e a sua mulher na qual os direcionaram até a esquadra da 41ª. Posto lá, Stoneira depara-se com a situação de que será detido. Reclamando sobre a suposta detenção, o Chefe Mapanda grita a Stoneira para calar a boca e fala que de hoje em diante será preso dele. De igual modo, ameaça a mulher de Stoneira dizendo, “cala boca, não tens medo de ficar Viúva”.

Stoneira ficou detido, numa sexta-feira, 4 de Março. No dia seguinte, a família foi levá-lo matabicho, mas depararam-se com a situação de que os presos do chefe Mapanda não têm direito a comida. Ainda no sábado, no período de tarde, novamente a família de António Agostinho vão até a esquadra visitar Stoneira e o encontram com hematomas de espancamento causado pelo Chefe Mapanda.

“Quem te fez isso”, questionou a irmã de Stoneira a ele. O malogrado em vida ainda respondeu, “é o Chefe Mapanda que me tirou da cela e me bateu”, explicava a irmã com uma voz triste.

No domingo, assim como conta a irmã mais velha de Stoneira, foram até a casa do Chefe Mapanda para uma nova possível negociação. Novamente, o Chefe Mapanda diz à família de António Agostinho que ele não roubou a mota. “O vosso irmão não foi que roubou a mota, quem disse isso é o meu PAPÁ, se vocês têm ai cinquenta mil kwanzas podem dar e vou mandar soltar o vosso irmão”. Sem valores de momento, a família foi a procura de empréstimos, mas sem sucesso, e os colegas de Stoneira da Oficina de Mecânica faziam contribuições de dez mil kwanzas a cada pessoa para poderem retirá-lo.

“Na semana seguinte, numa quarta-feira, fomos visitar novamente o nosso irmão, por volta das seis horas, e encontramos muitas movimentações estranhas. Meteram primeiro três corpos num carro e depois veio outro carro colocaram alguns presos. Era o momento que nos atenderam. Perguntaram-nos se viemos visitar quem, e dissemos que somos familiares do preso do Chefe Mapanda”.

“ Eh! O preso do chefe Mapanda saiu aqui gravemente doente. Foi transferido para o hospital geral de Cacuaco. Se vocês têm dinheiro agora, vão já até lá, e se trouxeram comida, aproveitem levar”, disse um dos agentes da esquadra da 41ª.

Questionando o motivo da gravidade da doença, um dos agentes da esquadra fala à família de Stoneira que ele não é o único que havia saído em estado grave, “eram muitos”, realçou o agente.

Sem valores para irem até ao hospital, horas depois, um motoqueiro chega até a família de Stoneira e entrega mil e duzentos kwanzas e diz que quem mandou é o chefe Mapanda. Admirados pela atitude, receberam e foram até ao hospital ver Stoneira.

“Chegamos até ao hospital disseram-nos que o nome do nosso irmão não consta na lista. A Enfermeira disse-nos que entrou três corpos aqui, mas só poderíamos ver se realmente é o nosso irmão se tivéssemos o processo de Stoneira em mão. Infelizmente o Stoneira não tinha nenhum processo na cadeia”, lamentou a irmã.

“Fomos novamente a esquadra para saber onde estava hospitalizado o nosso irmão, disseram-nos novamente que estava no hospital de Cacuaco. Uma vez que já havíamos ido três vezes e disseram-nos a mesma coisa. Ao sairmos, uma das oficiais aconselhou-nos a procurar o nosso irmão nas morgues, procuramos e encontramo-lo, na morgue do hospital geral de Cacuaco.

O RESULTADO DAS AUTÓPSIAS

A irmã de Stoneira conta como terá ocorrido um suposto envenenamento. Segundo Antónica Grosso e o activista Celestino Lopes, um dos detido que foi liberto da cadeia da 41ª, em Cacuaco, afirmou ter alertado a Stoneira a não tomar o chá, ambos relactam  que o chefe Mapanda trouxe uma térmica e entregou ao malogrado e a outros presos que estavam presentes na sela.

Antónica Grosso fez saber ainda, que o seu falecido irmão foi submetido a autópsia, mas sem o consentimento da família e o resultado mostra que o Stoneira morreu de espancamento.

António Agostinho, carinhosamente chamado por Stoneira, era Mecânico de profissão, natural de Luanda, de 32 anos, deixa 4 filhos e uma viúva.

“O COTA PEXINHO MORREU MUITO PRETO”

Por outro lado, a Associação Omunga visitou uma outra família que perdeu também o seu familiar nesta tragédia. Augusto Pedro, conhecido por “Cota Pexinho”, é também uma das vítimas mortais da esquadra da 41ª. Segundo o seu irmão mais velho, João Brás Manuel, que saiu de Lobito para acompanhar o caso do seu ente querido, fala que o cota Pexinho morreu muito preto, muito fininho, e quando foi submetido a autópsia, o relatório mostra que Augusto Pedro morreu por intermédio de objecto contundentes que resultou em acção de trauma craniano. “Mas a família não estava presente quando se fez este processo e nem nos deram resultado. Disseram-nos também que o Cota Peixinho havia tomado o Chá do Chefe Mapanda. Ouvimos isto por intermédio de um dos jovens que saiu recentemente da esquadra da 41.”

Neste momento, o Chefe Mapanda, segundo os agentes da Polícia, encontrasse detido mas, alguns activistas e moradores daquele bairro, afirmam ter o visto livre e a trabalhar numa das esquadras de Viana, em Luanda.

Um facto caricato que alguns activistas do bairro Boa Esperança e moradores do Município de Cacuaco contam, tem que ver com o facto do Chefe Mapanda ter deixado de trabalhar na esquadra da 41ª, ainda assim, continuava tendo autoridade de detiver qualquer pessoa do bairro e pô-lo na referida esquadra. Ou seja, o Chefe Mapanda tinha os seus próprios presos, em seu nome.

Em clima de dor e luto, ambas as famílias clamam por justiça e de uma explicação transparente por parte da Polícia Nacional e lamentam o nível de impunidade e abuso de poder da parte dos agentes.

Por: Edmilson João, estagiário de comunicação social

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