A CULTURA BANTU NA PERSPECTIVA DE UM GOVERNO LOCAL EM ANGOLA


Quintas de debates da OMUNGA

Benguela, Sexta-feira, 4 de Novembro de 2032

 

Texto produzido por: #Makuta #Nkondo

 

Antes de entrar no tema propriamente dito, começa-se por definir o contexto de línguas nacionais. A definição mesmo dessas línguas é polémica. Uns defendem que são línguas bantu, outros línguas africanas, outros ainda porque são línguas angolanas de origem africanas, línguas maternas, línguas étnicas, etc.

Se forem chamadas por línguas bantu, o problema que se coloca eh de o lugar da língua de bosquimanos ou dos hereros. Quanto a apelação de línguas nacionais – no caso de países africanos e de Angola em particular – questiona-se se este país herdado da Conferencia de Berlim de 1885 já eh uma Nação? Será que os actuais países africanos podem ser considerados Nações? Sabe-se que uma Nação eh mono-etnica, o que não eh o caso dos actuais países resultantes da Conferencia de Berlim que são mosaicos de etnias, dai conjunto de varias nações.

Mesmo que fosse Nações, no caso de Angola, as únicas línguas verdadeiramente angolanas são nomeadamente o Ovimbundu falada no Centro-sul e o Kimbundu e em certa medida o Kimbundu. Todas as outras línguas são transfronteiriças, como o Kikongo que eh falado em Angola, na Republica Democrática do Congo (RDC), no Congo-Brazzaville e Gabão; o Lunda que parte de Angola ate a Zámbia, passando pelo Leste da RDC; o Kwanyama que se fala do Kunene a Namíbia, assim como o Ngangela, etc.

Muitos dizem que o Kimbundu também eh uma língua fronteiriça, pois a região de Malange faz fronteira com a RDC. Pensa-se que entre Malange e a RDC há uma faixa de terra habitada por elementos da etnia Kikongo, pertencentes ah tribo Hungu.

A Constituição no seu artigo 19 nº2 atribui a definição de Línguas angolanas de origem africana.

No debate, vamos adoptar o termo de línguas nacionais, para facilitar a compreensão.

Quanto a importância de uma língua, ela eh um dos elementos mais importantes da identidade e cultura de um povo. E uma língua nacional ou língua banto ou melhor língua materna identifica a origem de um povo. Uma pessoa identifica-se melhor pela sua língua e o seu nome.

      Só um grande remédio pode acorda-lo e tira-lo do profundo coma em que se encontra.

Hoje, quase já não se fala.

As razoes desta morte lenta mas segura são sobejamente claras. Primeiro, a iniciativa pecou na língua Portuguesa em que a campanha é feita. Em segundo lugar, escolha dos intervenientes eh fatal.

Os destinatários primários da campanha de resgate das línguas e nomes angolanas são os povos de Angola, de origens diferentes. E a maioria dos Angolanos autóctones eh camponesa e analfabeta. Pouco ou não entende o Português de Maria Relva.

Pois, os camponeses são os melhores conservadores das línguas, nomes  e culturas das terras.

Por isso, para a melhor compreensão da matéria pelos “alunos”, esta educação cívica devia ser feita em línguas maternas e locais. Em Kikongo na área geográfica dos akongo, Kimbundu na língua da terra que se alonga da Ilha de Luanda a Malange passando pelas Províncias do Bengo e Kwanza Norte, Umbundu no Centro sul do Pais, etc. Isto para falar só das línguas mães, sem desprezar as variantes.

Para o êxito da campanha de recuperação dos usos e costumes, as autoridades devem serem as primeiras pessoas a exprimirem-se em línguas locais. Eh aberrante que uma autoridade fale ao povo em língua estrangeira, no caso de Angola, em Português refinado, usando um interprete  ou tradutor.

Por exemplo, um ministro da cultura deve ser alguém que domina profundamente algumas línguas mães do país, suas tradições e culturas.

De igual modo, o director de um Instituto de Línguas Nacionais deve dominar, falar e escrever fluentemente algumas línguas principais do país, começando pela sua língua materna, e, na Imprensa nacional, os responsáveis e apresentadores dos programas culturais e de entretenimento como Janela Aberta e outros devem conhecer profundamente as línguas e culturas dos povos.

Os noticiários em línguas nacionais não devem ser simples traduções literais das informações em língua portuguesa.

A comunicação social constitui um factor decisivo na recuperação ou revalorização das tradições deve aprofundar o uso das línguas nacionais, com vista a atingir um maior numero do alvo a que se destina os seus programas.

Para mais precisões, os programas radiofónicos, precisamente da televisão, devem ser feitos em línguas nacionais.

As rádios devem explorar com profundidade e em línguas angolanas os programas dedicados às culturas, aos usos e costumes bantu nomeadamente, os casamentos costumeiros ou “alembamentos”, os julgamentos,  às canções e danças folclóricas angolanas.

Os resultados são mais evidentes que se recupera os usos e costumes em línguas angolana do que em língua estrangeira.

Reitera-se que é muito fácil o resgate dos valores morais, cívicos e culturais em línguas angolanas.

Não é tarefa exclusiva do Estado de recuperar as línguas angolanas e os usos e costumes. As famílias (no contexto europeu de pai, mãe e filhos) assim como as comunidades devem ter o cuidado de criarem seus filhos nas suas línguas maternas. Pois, uma língua que não é falada pelas crianças tende a desaparecer. Assim acontece actualmente com a língua Kimbundu.

Recorde-se que o Kimbundu é a língua falada pelo povo da etnia do mesmo nome que habita a faixa de terra estendida entre Luanda, Bengo, Kwanza-Norte e Malange.

Outrora, o Kimbundu era falado na capital de Angola (Luanda). Hoje, raras são as pessoas que o falam. Mesmo os próprios donos da referida língua têm dificuldades de a falar genuinamente.

Para uma maior eficácia, as línguas nacionais devem ser ensinadas nas escolas localmente, faladas pelos governantes e pelas populações e usadas na função pública e privada a todos os níveis.

Nas cidades, fora dos serviços, as populações devem falar as suas línguas, cumprimentarem-se em seus idiomas.

A primeira vez duas pessoas de uma mesma etnia como por exemplo quando dois bakongo se encontram, devem cumprimentar-se “Mbote” ou “Watoma sikama?” ou ainda “Wuna e mavimpi?” ou simplesmente “Mavimpi”, o que significa em Português “Como estas?”.

O outro respondera por “Yina kiambote, ntondele” (Estou bem, obrigado).

Para se despedirem eles dizem “Yoyo” ou “Toma sala” (Fique bem).

Um mukongo deve saber que na sua língua materna, comida chama-se “dia” assim como comer “dia”. Beber “nua” e boca também “nua”, com a diferença na pronúncia. Respeito eh “Luzitu” e respeitar é “Zitisa”.

Pai é “Tata” e mãe “mama”. Acontece o mesmo com outras línguas nacionais.

Por outro Lado, os nomes portugues, considerando os nomes bantu como sendo de cães, macacos, matumbos e sanzaleiros.

Criaram um complexo de inferioridade aos autóctones que rejeitaram os seus nomes e a sua originalidade.

 Hoje, pelos nomes, muitos Angolanos confundem-se com os europeus.

 Aqueles que têm nomes bantu, estes (nomes) são amputados, de maneira a aportuguesa-los.

 Em vez de Nkanga (Kanga ou Canga, amarrar, prender, apreender, deter); Nkondo (Embondeiro) para Kondo ou Condo, Nkosi para Koxi ou Cose, Encoje, etc.

 Deformaram ainda os nomes indígenas durante o registo ou campanha de vacinação ou de Pentamedina para a doença do sono: Sita (Estéril) para Esteves, Nuni (Ave ou pássaro) para Nunes, Mvika para Viegas, Yingila por Ingila, Venasakio para Venâncio, Ngombe para Gómes, etc. Trocam a ortografia e a fonética dos nomes bantu.

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