TRAGÉDIA NO UÍGE: REPETE-SE A MORTE EM ESTÁDIOS DE FUTEBOL


 

 

Nota Pública

TRAGÉDIA NO UÍGE: REPETE-SE A MORTE EM ESTÁDIOS DE FUTEBOL

É com muita tristeza que a OMUNGA tomou conhecimento do incidente ocorrido no Estádio 4 de Janeiro, na  Província do Uíge, durante a abertura da primeira jornada do campeonato nacional defutebol, o vulgo Girabola ZAP que, de acordo às informações a circular, tirou a vida a cerca de duas dezenas de pessoas para além de muitas dezenas de feridos, dos quais alguns em estado grave.

Aproveita, através desta nota, endereçar os sentimentos de pesar às famílias dos falecidos e ao mesmo tempo manifestar a solidariedade com as famílias enlutadas e desejar rápidas melhoras aos feridos.

Infelizmente, começa a ser comum passarmos a assistir a cenas deste género em Angola, sem no entanto haver verdadedeiros processos de investigação, acções de responsabilização, medidas de prevenção, como se a vida dos angolanos, aos olhos dos organizadores destes eventos e à presidência da República, nada valessem, ou pior, menos valessem do que as vidas perdidas durante a guerra. Aquelas que pelo menos servem ainda para fazer parte de filmes e de campanhas eleitorais.

Apenas pretendemos, e rapidamente, lembrar as vítimas de 31 de Dezembro de 2012, a famigerada “vigília da virada – o dia do fim” organizada pela igreja universal do reino de deus (iurd), ocorrida em Luanda, no estádio da Cidadela[1]. Até hoje nada se sabe do seu desfecho e a “iurd” continua por aí a desenvolver as suas actividades. O estádio permite, segundo a informação, lugares para 70 mil pessoas e teriam comparecido entre “250 e 280 mil” pessoas[2].

Já na madrugada de 16 de Outubro de 2016, numa actividade organizada em Benguela pela LS Produções[3], registaram-se várias mortes e feridos pelas mesmas razões, asfixia e super lotação. Segundo a Angop, o Estádio de S. Filipe tem capacidade para 8 mil pessoas e teriam sido vendidos 15 mil bilhetes[4].

Agora no Uíge, dados oficiais apontam para 17 mortos[5] e muitas outras dezenas de feridos. Mais nos choca ainda é que, neste caso, enquanto dezenas de cidadãos morriam ou eram espezinhados, a partida de futebol continuou até ao seu desfecho com o apito final do árbitro, como se nada estivesse a acontecer.

Infelizmente, os 3 casos aqui apontados, embora com realização de actividades distintas, relacionam-se com a utilização de espaços desportivos (estádios de futebol) e, por isso, sob tutela do Ministério da Juventude e Desportos e da Federação Angolana de Futebol.

Parece-nos que em todos estes casos, a presidência da República se posicionou, ou deveria tê-lo feito, para que se abrisse um inquérito e se apurassem as responsabilidades. Infelizmente, para os casos anteriores, não é do conhecimento público qualquer resultado de tais inquéritos. Das duas, uma: Ou realmente a presidência da República anda a brincar connosco e não há inquéritos, ou então as instituições andam a brincar com a presidência da República!

Para além da primeira coincidência (estádios de futebol), segundo informações postas a circular, tanto para a tragédia em Benguela, como nesta que ocorreu agora no Uíge, apontam para a intervenção policial, de forma violenta, como o factor que possa estar por trás das mesmas. O uso de gás lacrimogéneo e a repressão policial, são citados em ambos os casos.

Por último, também nos preocupa a denúncia posta a circular pelo MISA – Angola[6] de que o jornalista Nsimba Jorge, correspondente da Agence France Press (AFP) fora detido durante a noite de 11 de Fevereiro de 2017, quando estava a fazer uma reportagem sobre as mortes no estádio de Santa Rita de Cássia.[7]

Nesta conformidade, a OMUNGA responsabiliza a presidência da República em relação ao ocorrido no Uíge pelo facto de ser repetitivo este tipo de tragédia e em nenhum momento anterior terem sido tomadas as devidas medidas de responsabilização e de prevenção.

Exige ainda que os resultados do inquérito sejam públicos, como o devem ser para os casos antecedentes e sejam realmente assumidas as consequências. Lembramos que, os apoios dados ou a serem dados às vítimas saiem dos bolsos de todos os angolanos e não dos favores da presidência da República. São os cidadãos que pagam com a vida e com o dinheiro estas tragédias! Angola está em crise e o nosso orçamento não é para ser gasto com caixões!

Por último, exige os devidos esclarecimentos sobre a detenção do jornalista Nzimba Jorge, no ano que se espera ser de eleições.

Lobito, 13 de Fevereiro de 2017

José A. M. Patrocínio

Director Executivo

 

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[1] – Euro News, 1/1/2013 – Vigília da igreja universal do reino de deus acaba em trajédia – https://www.youtube.com/watch?v=asqjmiEAYGA

[2] – Público, 2/1/2013 – Desastre de Luanda chama a atenção para crescimento da iurd em Angola – https://www.publico.pt/2013/01/02/mundo/noticia/desastre-de-luanda-chama-a-atencao-para-crescimento-da-iurd-em-angola-1579223

[3] – RFI, 16/10/2016 . Tragédia em concerto em Benguela – http://pt.rfi.fr/angola/20161016-tragedia-em-concerto-em-benguela

[4] – Angop – 17/10/2016 – Benguela: Oito pessoas morrem no festival Afro Music Channel – http://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/sociedade/2016/9/42/Benguela-Oito-pessoas-morrem-festival-Afro-Music-Channel,8e5ae9d4-47a6-47c6-b95b-0b21b36befc6.html

[5] – RTP. 12/02/2017 – Presidente angolano ordena inquérito à tragédia em estádio no Uíge – http://www.rtp.pt/noticias/mundo/presidente-angolano-ordena-inquerito-a-tragedia-em-estadio-no-uige_n982305

[6] – Novo Jornal, 12/02/2017 – Tragédia no Uíge: MISA-ANGOLA alerta para detenção de jornalista que tentava completar reportagem sobre mortes no estádio – http://www.novojornal.co.ao/artigo/74370/tragedia-no-uige-misa-angola-alerta-para-detencao-de-jornalista-que-tentava-completar-reportagem-sobre-mortes-no-estadio?seccao=NJ_Sec

[7][7] – Rede Angola. 12/02/2017 – Repórter da AFP detido no Uíge quando tentava falar com as vítimas do incidente o estádio – http://www.redeangola.info/reporter-da-afp-detido-no-uige-quando-tentava-falar-com-as-vitimas-do-incidente-no-estadio/

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