“A VIDA ERA MUITO DIFÍCIL”


“A VIDA ERA MUITO DIFÍCIL”

Lobito, 07.05.17

O ‘centro 16 de Junho’ é hoje uma comunidade localizada no Bº 27 de Março, na zona alta da cidade do Lobito. É constituída essencialmente por antigas crianças de rua.

Por este motivo, pelo seu historial e conquistas, merece uma atenção especial já que também, foi o primeiro, e é o único em Angola, bairro social construído com recursos públicos direccionado especificamente para comunidades carentes sem tecto.

Alberto José Correia, conhecido por Beto, actual líder da comissão de moradores, falou-nos do tempo que, enquanto criança, deambulava e vivia, pelas ruas do Lobito, “a vida era muito difícil”.

“Eu e outros irmãos não tínhamos um paradeiro para dormir, um paradeiro fixo para dormirmos. Nós dormíamos em paradas, dormíamos em focos, e essas paradas eram maioritariamente as ruas, como por exemplo as cadeiras do mercado municipal, as escadas dos prédios, algumas padarias que nós às vezes conversávamos com os guardas e eles nos possibilitavam pernoitar lá nas próprias padarias”.

Beto lembra-se da “correria tremenda”, porque não havia sossego, já que para dormir tinham que estar sempre atentos “com a polícia, por um lado” e por outro com as chuvas.

O Mercado Municipal era o local do encontro. “Era lá onde nós fazíamos a nossa vida, era lá onde fazíamos a lavagem dos carros, era lá…. quer dizer, era o nosso ponto de partida para outros sítios”.

Os contactos com a OMUNGA, na altura ainda um projecto do OKUTIUKA, eram feitos “ainda mesmo nas paradas. Nós ainda estávamos mesmo nas paradas e foi a partir dali que a OMUNGA, essas pessoas vinham e ficavam, conversavam connosco ali e nos aconselhavam, procuravam viver os nossos problemas e também conseguiam, algumas vezes, fornecer algum vestuário e às vezes papas também”, lembra o Beto.

Beto explica como foi o processo até chegar ao 16 de Junho, onde primeiro foram colocados “num espaço na Restinga, numa sala bem grande e que era da actual Casa Inglesa”. Era o espaço que a “OKUTIUKA tinha encontrado e onde passávamos todos, a noite ali, já com, digamos, segurança” lembra o actual líder do 16 de Junho, “digamos com segurança, porque nós naquela altura já tínhamos um abrigo, quando antes disso não tínhamos, dormíamos na rua”.

Já em relação à fase da luta da ‘Pousada da Criança’, Beto não consegue explicar bem porque, segundo ele, “a OMUNGA forma um grupo de 6 elementos, onde eu estava presente, que fazem parte do grupo de jornalistas que produziam o jornal ‘Os Nossos Mambos’, no Lobito, então nessa altura eu já tinha, digamos que eu já tinha dado um salto na vida, já não vivia directamente, ou a 100% na rua, já tinha alugado uma moradia e já vivia a minha vida”. No entanto, afirma que, em relação a essa fase o que sabe é que “a grande luta era que todos os moradores de rua tivessem moradia segura”.

Refere-se no entanto, que a referida ‘Pousada da Criança’, localizada no centro da cidade ao lado do Banco Nacional de Angola, “era um sítio que também não era seguro, o pessoal vivia em cabanas, cubatas e por aí fora e mesmo quando chovia também não garantia segurança tanto mais que houve vários incêndios na própria ‘Pousada da Criança’. Então ali começou a luta da OMUNGA em negociar com o Estado, ou exigir ao Estado em construir-se assim as moradias condignas, que são estas onde hoje muitos estamos.”

Acompanhe a entrevista completa.

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