Rádios comunitárias em Angola: Uma esperança que ainda não se ouve



O jornalista Ramiro Aleixo lançou um alerta provocador durante a Conferência Provincial da Sociedade Civil de Benguela, ao questionar a existência real de rádios comunitárias em Angola e destacar o seu enorme potencial negligenciado num país com 50 anos de independência, mas ainda com vozes comunitárias silenciadas.


“Não sei se, de facto, existem rádios comunitárias em Angola.” Foi com esta frase inquietante que o jornalista Ramiro Aleixo iniciou a sua intervenção na Conferência Provincial da Sociedade Civil de Benguela, realizada no âmbito do Projecto TE L’VANDO. A sua exposição mergulhou nas contradições gritantes entre o que está consagrado na Constituição  como a Liberdade de Expressão e de Comunicação e a realidade vivida nas comunidades angolanas.

Com base em observações e comparações internacionais, Aleixo questionou por que razão, num país com cerca de 40 milhões de habitantes, ainda não há rádios comunitárias autênticas e operacionais de facto e de jure.

“Na Guiné-Bissau, por exemplo, existem 33 rádios comunitárias para apenas 3 milhões de habitantes. E nós? Nenhuma reconhecida oficialmente.” Disse

As rádios comunitárias, segundo ele, são estações criadas pela e para a comunidade, com foco nas realidades locais. Aleixo destacou ainda o papel crucial que estas rádios poderiam ter em situações de emergência pública.

“Estamos a viver um surto de cólera e Benguela atingiu o pico. Se existissem rádios comunitárias na Baía Farta, por exemplo, a informação teria chegado às comunidades com mais rapidez e eficácia. Talvez o impacto fosse menor.”


Falando sobre os elevados custos associados à criação e manutenção de uma rádio comunitária, o que constitui uma das maiores preocupações para a sua viabilidade, Ramiro Aleixo apresentou dados concretos. Explicou que um estúdio pode custar entre 6 mil a 14 mil dólares, enquanto um transmissor pode atingir até 8 mil dólares, sendo possível montar uma rádio no ar com um investimento inicial aproximado de 24 mil dólares. Ressaltou ainda que países como o Brasil, os Estados Unidos da América e a África do Sul economias consolidadas  investem activamente nesse modelo de comunicação de proximidade.
A reflexão lançada pelo jornalista em Benguela reacende o debate sobre o papel da comunicação local no desenvolvimento social e democrático do país. Enquanto isso, em muitos bairros e comunas, o silêncio continua a ser a única frequência sintonizada.

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