“ACHO QUE O ESTADO NOS ESQUECEU”


“O MEU CARTÃO DE REFUGIADO ESTÁ CADUCADO DESDE 2016”

Muitos dos imigrantes, refugiados e requerentes de asilo, estão em Angola de forma irregular, isto porque desde 2015 o estado angolano parou de actualizar e emitir novos cartões para regularização de cidadãos estrangeiros no território nacional, principalmente para os que encontram na situação de refugiados.

Desde a implementação do Projecto “ Documentos Para Todos”, a OMUNGA tem vindo a trabalhar com os imigrantes e refugiados do Oeste africano  no sentido de garantir e promover os seus direitos. Assim sendo, tem realizado várias entrevistas de perfis com cidadãos do oeste africano.

O ESPAÇO IMIGRANTES E REFUGIADOS: é um espaço de diálogo onde os imigrantes e refugiados partilham a sua experiência e os desafios que enfrentam. hoje tivemos como convidado o senhor Gaby Djabi da Costa do Marfim para saber do seu dia-a-dia e das suas dificuldades que passa em Angola.

Gaby é pai de dois filhos, refugiado, de 49 anos, residente no Mártires do Kifangondo em uma casa de renda com a sua esposa. Gaby e a sua esposa, ambos não exercem nenhuma actividade de subsistência. Vivem de biscatos e de algumas ajudas dadas pelos seus amigos. Quando consegue alguns valores, Gaby entrega o dinheiro a sua esposa para fazer alguns “negocinhos”. Órfão de pai e mãe, o Costa Marfinense chegou em Angola em 2003 em busca de melhores condições de vida. Os seus filhos, que vivem actualmente no Mali, não estão no sistema de ensino por motivos de valores financeiro para colocá-los em uma instituição de ensino. Neste momento, Gaby está a precisar do passaporte para imigrar para o Canadá.

Acompanha a entrevista:

OMUNGA: POR QUE ESCOLHEU ANGOLA COMO PAÍS PARA EMIGRAR?

GABY: Eu escolhi Angola como país para emigrar porque pensei que era melhor que o meu país.

OMUNGA: COMO TEM SIDO O SEU DIA A DIA?

GABY: Eu, normalmente, acordo e agradeço a Deus. Vou a rua girar a procura de biscatos para garantir o pão do dia.

OMUNGA: QUANDO NÃO CONSEGUES O PÃO?

GABY: Passamos o dia sem comer. Não podemos roubar…

OMUNGA: A SUA MULHER, TRABALHA OU VENDE ALGUMA COISA?

GABY: Não vende e nem trabalha. Não tem negócio para ela vender, mas quando tem, ela vende.

OMUNGA: COMO ERA AS SUAS CONDIÇÕES SOCIOECONÓMICA ANTES DE VIR AQUI EM ANGOLA?

GABY: A minha situação económica no meu país era muito difícil. Era muita pobreza. O meu pai era pobre e a minha mãe também era pobre. A minha mãe zungava para poder nos sustentar. Nós crescemos no sofrimento e com muitas dificuldades de viver.

OMUNGA: QUAIS SÃO OS MOMENTOS BONS QUE PASSOU AQUI EM ANGOLA?

GABY: Passei bons momentos quando as coisas estavam mais fáceis. Agora com a crise e com a falta de emprego, está duro. Está difícil… Antes fazia muitos biscates, mas agora está muito duro mesmo.

OMUNGA: O QUE GOSTARIAS QUE MUDASSE NAS POLÍTICAS MIGRATÓRIAS ANGOLANA?

GABY: O estado tem de criar boas leis para nós os refugiados. Nós temos problemas de documentação. Não sei se o Estado nos esqueceu. Desde 2016 que o meu cartão de refugiado caducou e até agora não resolvem a minha situação.

OMUNGA: COMO TEM SIDO A RELAÇÃO COM A POLÍCIA E O SME?

GABY: Fui interpelado durante a operação resgate pela Polícia Nacional. Pediram-me o documento e entreguei os meus documentos. Recebendo-os, disseram-me que este documento está caducado e também é falso. Eu pedi para irmos até ao Serviço de Migração Estrangeiro para certificarmos se este documento é falso ou não. Mas, infelizmente não aceitaram e me levaram até a unidade operativa do Congoleses que fiquei dois dias detido. Depois levaram-me até ao CIT, actual Centro de Instalação Temporária, que fica no 30, em Viana, onde fiquei 19 dias.

Em seguida, fui levado até a Comarca de Viana onde fiquei preso durante 3 meses.

Doeu-me bastante com esta situação, porque a minha mulher ficou sozinha, ninguém conseguiu ajudá-la. Nem mesmo o ACNUR.  

OMUNGA: QUAIS SÃO AS PALAVRAS QUE DEIXAS PARA O GOVERNO NESTE MOMENTO?

GABY: O Serviço de Migração e Estrangeiro tem de ver esta situação dos passaportes e dos documentos para os refugiados. Há refugiados que ficaram doente e morreram por causa deste documento. Mesmo para tirar a segunda via do chip é muito complicado. Não nos é permitido porque dizem que os nossos documentos estão caducados. Mesmo indo às empresas para trabalhar não aceitam por falta de Documentação. É um problema muito grave e que peço as autoridades para reverem a situação.

OMUNGA: O QUE A ASSOCIAÇÃO OMUNGA SIGNIFICA PARA SI EM FUNÇÃO DO PROJECTO “DOCUMENTOS PARA TODOS”?

GABY: A Omunga está comigo dia e noite no sentido de impulsionar as instituições de direito a resolver a minha situação.

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