“Proteger a lei é importante, mas o mais importante é a vida”, Miguel Sebastião, médico pediatra.
Texto: Luísa Nambalo
Revisão: Carmen Mateia
Supervisão: João Malavindele
Pela segunda vez a Omunga realizou mais uma live especial dentro da Campanha: Basta Violência Policial, devido o triste acontecimento do passamento físico e prematuro do médico pediatra, Sílvio Dala, ocorrido no dia 01 de Setembro, numa das esquadras da Polícia Nacional em Luanda. Para este painel convidamos o médico pediatra e Secretário provincial de Luanda do Sindicato dos Médicos de Angola, Miguel Sebastião, sob moderação do jornalista e activista, Simão Hossi Sonjamba.
PERFIL DO MÉDICO DALA ATÉ A VÉSPERA DE SUA MORTE
Miguel Sebastião, Médico pediatra e Secretário provincial de Luanda do Sindicato dos Médicos de Angola contou que o Dr. Sílvio Dala era proveniente da província do Cuanza Norte, concretamente do município de N’Dalatando e chegou à Luanda com a finalidade de se formar em Pediatria, pois calcula-se que essa província, assim como aproximadamente outras nove (09) no país que apresentam carências de médicos angolanos formados em Pediatria.
De forma breve, caracterizou o Dr. Sílvio como alguém “muito humilde”, de poucas palavras, que na sua óptica e na dos outros profissionais não apresentava indícios de quem costumava discutir, muito menos com a polícia.
– O Dr. Sílvio e mais alguns de seus colegas de profissão tinham sido escolhidos para fazer essa formação no Hospital Pediátrico David Bernardino. No Kwanza Norte ocupava o cargo de Director Clínico do Hospital Materno Infantil da cidade de N’Dalatando.
Segundo o pediatra Miguel Sebastião, o incidente ocorreu em Luanda, no dia 01 de Setembro quando o médico Sílvio Dala saía do hospital, depois de cerca de 72 horas de trabalho árduo. Já cansado, o Dr. Dala dirigia-se à casa quando a polícia o interpelou por não usar a máscara facial, infelizmente por não haver condições disponíveis para o pagamento da multa, a polícia pediu-lhe que o acompanhasse até a esquadra da polícia do Rocha Pinto, antes trocou mensagem com um amigo informando que estava a ser levado para a esquadra e por não haver condições para liquidar a dívida foi colocado numa “cela”. Passado pouco tempo, começou a convulsionar, caiu e embateu com a cabeça no chão criando assim uma ferida na “nuca” que em seguida começou a sangrar.
POSICIONAMENTO DO SINDICATO DIANTE DA JUSTIFICAÇÃO DA POLÍCIA
O secretário do Sindicato afirmou que “o resultado em nenhum momento convenceu o sindicato”.
Diante desse infortúnio, o Sindicato dos Médicos tomou conhecimento no dia 02 de Setembro, sendo que, deslocou-se até à Direcção Nacional de investigação Criminal (DINIC) para obter melhores esclarecimentos, foi assim que presenciaram um agente da polícia conversando por via telefónica com um dos polícias que trabalha na esquadra onde o Dr. Dala esteve detido, questionou “o que aconteceu com o médico que morreu na esquadra”, a partir daí, a delegação de constatação do Sindicato dos Médicos apercebeu-se que o médico já tinha perdido a vida antes mesmo de ser transportado para o hospital.
Em seguida foram até à morgue do hospital Josina Machel, local onde havia ficado o corpo do Dr. e observaram uma ferida incisa (tipo corte) na nuca, sangramento abundante, assim como foi colocado de baixo para cima, sem dignidade. Mantiveram igualmente o contacto directo com os profissionais de saúde que trabalharam no dia em que tudo aconteceu.
Sendo assim, o Sindicato concluiu que por causa da lesão que o médico apresentava na cabeça o médico Sílvio Dala morreu de “traumatismo crânio-cefálico”, em contrapartida, segundo as autópsias feitas pela polícia, o Dr. morreu de “causa patológica”, ou seja, um enfarte agudo no miocárdio.
Todavia, o sindicalista ainda referiu que os resultados de uma autópsia jamais devem ser revelados por um agente da polícia e sim por um médico legista.
“A vida é um bem supremo, acima dela não existe outro bem”, mencionou o médico Miguel Sebastião, e acrescentou: “proteger a lei é importante, mas o mais importante é a vida”.
O USO DE MÁSCARAS NO INTERIOR DAS VIATURAS
Em seu argumento, o médico pediatra disse que segundo estudos científicos ainda não existem dados que comprovem a contaminação quando alguém esteja só e sem máscara, na sua viatura.
O médico acredita que a antiga medida que obrigava as pessoas a usá-la no interior de suas viaturas não tem nada a ver com a nossa prevenção. Lamentou o facto de terem sido muitas vidas dizimadas por causa dessa medida.
SUGESTÕES LEVANTADAS PELO SINDICATO ÀS INSTITUIÇÕES DE DIREITO
A família do Dr. Sílvio juntamente com Sindicato dos médicos estão a promover um processo-crime contra a Polícia Nacional, tudo para se averiguar a veracidade da autópsia feita ao cadáver do Dr. Sílvio. Segundo informações avançadas pelo o secretário provincial do Sindicato dos Médicos de Angola, actualmente estão a trabalhar com três (3) advogados, para se ver resolvida essa situação.
Além disso, o Dr. Miguel fez saber que a classe médica almeja diante do governo angolano que haja assistência social ou pensão alimentar para os 4 filhos menores do Dr. Sílvio até alcançarem a idade adulta, visto que a família do médico dependia totalmente dele.
Por outro lado, referiu que o Sindicato apresentou uma proposta ao Governo Provincial do Cuanza Norte e igualmente à direcção do Hospital Materno Infantil onde o Dr. Sívio trabalhava, para que doravante seja denominado: Hospital Materno Infantil Dr. Sívio Dala.
Avançou ainda que o Sindicato dos Médicos de Angola está a elaborar um documento que se pretende encaminhar à Ordem dos Médicos e a outras entidade competentes, com a finalidade de oficializarem a data de 01 de Setembro como o dia da “Consciência Médica”, a reflexão será especialmente voltada ao Dr. Sílvio Dala.
A atividade contou com o apoio da Christian Aid